MINHA HERANÇA.
Em meio a tantas ausências e fragmentos da minha memória, a fotografia se apresenta como uma âncora. Uma forma de preservar o que se foi e de reconstruir o que o tempo e a mente apagaram.
vô tião
Esta imagem retrata o meu avô, Sebastião, mais conhecido como Tião. Nascido em 27 de dezembro de 1941. Quando ele faleceu, eu era muito pequeno, me lembro vagamente da noticia e confesso que ela tão distante que não senti o luto. A minha lembrança dele em vida, se resume a flashes distantes de visitas aos finais de semana na casinha dele, que tinham tantos outros parentes, e se localizava em frente ao rio no Taboão - Diadema.
Essas lembranças são quase vagas, mas, de alguma forma, estão preservadas nessa fotografia. Encontrei-as no dia 18 de dezembro de 2024, em uma caixa de fotos na casa da minha avó e ali mesmo corri ao ponto de luz mais próximo, que coincidente, era uma peça de móvel de sua filha, tal qual ele dedicou em seu retrato, Regina Célia. Um achado que trouxe à tona a presença silenciosa de duas pessoas que, embora estiveram quase a minha vida toda ausente fisicamente, permanecem vivas através da imagem e da memória.


Foi nesse momento que eu realmente entendi sobre o que é uma herança. Para mim, a fotografia é, sem dúvida, a minha herança. Ela é o fio que conecta o passado ao presente, a memória à reconstrução do eu. De onde vim, onde estou e para onde eu quero ir. Essa obra é um resgate de um território afetivo e emocional, em que a fotografia se torna a guardiã do que foi perdido e o que se reconquista ao longo do tempo. O avô, a infância, a casa à beira do rio, a caixa de fotografias, a periferia, a assinatura – todos esses elementos se tornam território da memória, e a fotografia é o veículo que me permite acessar e reconstituir essas memórias fragmentadas.
"Minha Herança" é sobre o ato de recuperar e reinterpretar a memória, de dar novo significado às imagens que nos foram deixadas. A fotografia, para mim, é a forma mais pura e profunda de herança, pois nela tudo que foi vivido, sentido e perdido, permanece. Ela nos oferece uma chave para reconstruir, repensar e nos conectar com o que foi e com o que somos agora.
essa é a minha herança, a fotografia é minha herança.