O corpo normativo branco, eurocêntrico e masculino já não cabe mais para refletir toda a complexidade humana, por essa razão, o corpo que transgride conta sobre as vivências dissidentes e a lente de uma fotografia atenta ecoa aquilo que não dá para ser dito, o que sofistica a subjetividade. 
O registro fotográfico tem a capacidade de (re)produzir imaginários, provocar e questionar quem tem contato com ele. Dessa forma, temos como objetivo levar os sujeitos envolvidos nesse processo a refletir sobre como pessoas negras têm sido vistas cotidianamente e como elas podem ser vistas fora da chave da subserviência.  
O monopólio branco das cores, iluminação e estética, fizeram da fotografia um instrumento de perpetuação de opressão através da imagem formatando no imaginário coletivo uma concepção do que é "belo". Por isso, uma fotografia negrocêntrada apresenta camadas mais densas sobre outras subjetividades, já que a fotografia permite narrar experiências com riqueza de detalhes. 
A pele preta narra a experiência subjetiva que ora está nublada pelo racismo, ora está banhada pelo sol, admitindo uma essência que se transmuta em si mesma. Quando o corpo se deixa penetrar pela luz natural do dia ou pela luz noturna indo do dourado ou prata, conversa com o amanhecer de um dia lindo e com o cinza das grandes capitais urbanas, isso traduz os atravessamentos do corpo preto.
Uma gota de sol, é portanto, um manifesto fotográfico-textual que tem proposta registrar o movimento do corpo preto, transcendendo estatísticas mortíferas desenhadas pelo próprio modelo necropolítico do Estado, como vai dizer Achille Mbembe. 

O projeto tem como fim provocar uma fotografia que desobedece a colonialidade ou a decolonializa para nutrir esse território vivo que é o corpo negro enquanto representação de uma coletividade de que singulariza, sem perder de vista o seu papel enquanto sujeito politico-social. Assim, muito embora as dinâmicas de poder das estruturas familiares, sociais e institucionais o corpo negro é a transgressão que cria vida.




E se eu fosse um sol?
Apesar do colonialismo ter interrompido a subjetividade plena de pessoas negras que em um contexto anterior sequer eram demarcadas pela sua cor, mas sim pela etnia e nacionalidade, a negritude se tornou um instrumento de força para ressignificar a identidade e o trânsito numa realidade pós colonial. Sendo assim, a luz traz autenticidade para essas vivências que não são um bloco monolítico, mas são múltiplas e cheias de camadas.  

A captura desse corpo negro traz uma cadência para uma subjetividade que conversa com um mundo diferente desenhado pelo afrofuturismo como um lugar onde o negro não precise negociar para existir e esteja livre do véu da branquitude, muito pelo contrário, encontre nos elementos ancestrais projeção de vida para o futuro.
Princípios do projeto: fortalecimento, reconhecimento e pertencimento são chaves para compor uma fotografia negroreferenciada que construa processos pedagógicos que emancipe corpos enclausurados pelo racismo.


A retomada: Nosso objetivo é quebrar a dualidade/ binária do corpo negro o percebendo como complexo, pois apesar da criação dicotônimica entre angelical e o demoníaco, o corpo negro é uma fusão de experiências cuja imagem configura campos sensoriais. Assim, a pele preta penetra tanto o dia, quanto a noite, de modo que esse aparente contraste  configura campos sensoriais que derrubam as fronteiras, já que esse corpo sequestrado pela colonização cria interfaces entre múltiplas linguagens e possibilidades de (re)existir. 


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